Quando procurei terapia na EFEN na metade de 2019, com minhas demandas iniciais e com meu sofrimento, eu também tinha a insipiente vontade de um dia mudar de carreira e me tornar um terapeuta. Mas nunca imaginei que este poderia ser um processo tão rápido quanto o de alguns anúncios que vi na internet, prometendo formação em poucos dias. Uma dessas propagandas, promete te tornar terapeuta quântico em sete dias. Isto está bem para quem tem como foco o sucesso financeiro. Mas em desacordo com o cuidado que se deve ter com a vida, com os afetos e com a sensibilidade do paciente.
Os estudantes de psicologia sabem que para se tornar psicólogo basta concluir a graduação teórica e ter alguns meses de estágio no Serviço de Psicologia Aplicada para depois começar a atender pessoas. Não é exigida uma terapia de base para isso. Ora, se a formação é intelectual, então porque não acelerar o processo? |
Formações velozes estão de acordo com esta visão educacional. Mas cursos, sozinhos, não te habilitam para a formação em Vegetoterapia Carátero-Analítica, tal como praticada pelos terapeutas da EFEN.
Na EFEN o cerne da formação é a terapia de base e a supervisão clínica. Trabalha-se o terapeuta como um todo. A sensorialidade do corpo físico é como um espelho que reflete a realidade. Este espelho deve ser trabalhado, polido, para que possa refletir com clareza. Destilam-se os sentimentos e as sensações do futuro terapeuta. O processo de formação é lento, como todo trabalho que respeita os tempos e as transformações da natureza, porque atua no organismo do terapeuta.
Para trabalhar em prol da saúde do outro é preciso tratar da própria saúde em primeiro lugar. Entrar cada vez mais em contato com a realidade não verbal e analógica em si e nos outros, aprender a transitar nos diferentes fluxos emocionais, pensar de forma funcional, perceber quando se está sendo reativo ou potente, abrir-se para que haja troca com seus futuros pacientes. Todos estes amadurecimentos levam tempo. Afinal, até o terapeuta iniciar sua formação, teve uma vida inteira de consolidação de modos automáticos na forma com que se relaciona consigo e com os outros. É um processo de observação e mudanças.
Existem terapias que procuram ajustar o paciente à cultura patriarcal e que tentam “salvar” as relações preexistentes do paciente, por exemplo com os pais ou com o cônjuge, ainda que isto gere um custo emocional e energético. Na terapia pós-reichiana, a reorganização da vida social do paciente, com maior funcionalidade destas relações, para uma vida mais satisfatória, é uma probabilidade que decorre ao longo da sua trajetória na terapia. Ou seja, conseguir viver fora dos ditames da cultura repressiva. Isso inclui uma reconexão com suas próprias emoções e a capacidade de pensar de acordo com o que se sente.
Nossa sociedade não se sente confortável com expressões emocionais livres. Como exemplo, o modo de produção nas grandes empresas é o de que você precisa ser tecnicamente competente, resiliente e emocionalmente contido. Uma pessoa competente possuiria a “atitude correta” para trabalhar, que é determinada pela cultura de usar as pessoas como recursos econômicos e não tratadas de fato como pessoas vivas. Enquanto uma clínica intelectual vai tentar ajustar o paciente ao seu trabalho ou arrumar um novo trabalho sem se importar muito em como a pessoa verdadeiramente se sente e se insere nas suas atividades, a clínica pós-reichiana vai auxiliar o paciente a descobrir, através de seu processo de amadurecimento emocional apoiado por sua sensorialidade, o que está bom e o que está ruim para ele no seu trabalho. Como melhorar seu ambiente? Ou se não puder, como mudar para outro ambiente de trabalho ou transitar para uma carreira inteiramente diferente, uma que lhe dê maior satisfação?
Numa formação puramente intelectual, o terapeuta pensa sobre o que seu paciente diz. Utiliza preconceitos, julgamentos, análises lógicas. Faz uma comparação constante entre aquilo que sabe e que acredita ser adequado para seu paciente, com o que o paciente relata. Sempre pela análise lógica da narrativa da pessoa, pelo discurso produzido. O paciente conta uma história, e o terapeuta devolve uma outra história, interpretando, decodificando o discurso que ouviu.
Investigam-se os pontos em que a pessoa está sofrendo na vida para encontrar quais as falhas que está cometendo em relação ao ideal. Estas falhas (cognitivas, emocionais, etc.) serão corrigidas e assim ela poderá voltar a ter um bom desempenho (sexual, profissional, social, estudantil). Tenta-se encaixar a pessoa dentro de um modelo ideal, estático, de comportamento que sempre que realizado deveria lhe dar paz de consciência, ainda que com isto ela pague o preço de aprisionar-se em modos de vida que na realidade não são para ela, e que lhe roubam sua potência energética. Caso o paciente não consiga essa paz, ou resolver seus conflitos e problemas, algo ele fez de errado, logo a culpa é dele e não do modelo idealista utilizado pelo terapeuta.
A maioria das teses sobre a mente inconsciente trata as pulsões como inerentemente irracionais, que estão em desacordo com a capacidade de raciocinar.
Na vegetoterapia o paciente aprende a reconhecer suas emoções primárias e secundárias. As secundárias são reativas, e sim podem concorrer para pensamentos e ações irracionais. Irracionais não porque não possuam uma lógica própria, mas porque levam à desgaste, sofrimento, conflitos relacionais, enfim, diversos problemas surgem ou se agravam na vida da pessoa quando ela se move de forma reativa. O fascismo é um exemplo de irracionalidade, tem sua própria lógica que é baseada em emoções muito reativas, como o ódio. As emoções primárias são as do cerne biológico e que estão de acordo com o que acontece realmente no seu ambiente. Como exemplo, quando a pessoa perde um familiar com quem tem laços afetivos, ela fica triste. Quando pensamos a partir das emoções primárias, podemos dizer que estes pensamentos são racionais e estão de acordo com a realidade e concorrem para a livre expressão vital da pessoa. Fazer contato com estas emoções primárias e desbloquear o movimento e expressão delas é um dos objetivos da vegetoterapia.
Já na psicanálise, as pulsões seriam domáveis apenas mediante uma instância superior, o superego, que seria a introjeção da cultura no sujeito. Mas a cultura introjetada aqui no Brasil (ou na maior parte do mundo) reprime a sexualidade. É justamente esta repressão que dá origem às emoções secundárias e à irracionalidade. A clínica pós-reichiana não tenta ajustar a pessoa à essa cultura. Isso iria contra a saúde do paciente.
Numa terapia que leva em conta o inconsciente e que se baseia na produção da fala, o paciente pode vir a reconhecer suas pulsões, e conhecer-se a partir de uma troca de narrativas com o terapeuta. O terapeuta escuta o texto e o subtexto (pausas, silêncios, chistes, contradições no que diz) dentro da narrativa do paciente. Elabora significados e devolve estas interpretações ao paciente. Encaixa o que o paciente narra em seus próprios saberes intelectuais, e vai devolvendo uma história com significados de volta.
Mas significados, símbolos e semiótica pertencem a funções do neocórtex. A vegetoterapia, embora não negue a importância do mesmo, trabalha primariamente sobre os outros 2 cérebros do ser humano: o reptiliano e o límbico. Sobre as sensações e emoções do animal humano, que ficaram prejudicadas em seu desenvolvimento biológico sobretudo quando ainda não sabíamos pensar de forma lógica. A terapia pós-reichiana procura nos reconectar com a natureza em nós mesmos e a partir daí com os ambientes e seres vivos com que nos relacionamos. |
Que fique claro, a terapia pós-reichiana não recorta o ser humano. A Vegetoterapia Carátero-Analítica trabalha simultaneamente em indicadores fisiológicos, emocionais e mentais do paciente. O que é considerado pelas ciências mecanicistas como objetivo (o corpo) e subjetivo (a mente) são abordados a partir do princípio de funcionamento comum que os sustentam: a bioenergia, o orgone que permite a pulsação plásmica em todos os seres vivos.
A mobilização e o desbloqueio desta sutil energia é feita com um conjunto de técnicas. A análise do caráter auxilia o paciente a compreender os seus comportamentos automáticos e os traços de caráter que os originam, o que auxilia a flexibilização das couraças. Com esta flexibilização, a pessoa aumenta seus repertórios emocionais e seus modos de agir no mundo. |
Há ainda a recomendação pelo uso de terapias convergentes que visam aumentar a disponibilidade de bioenergia no organismo do paciente. Esta mobilização é acompanhada de sentimentos e sensações que são trabalhados com o terapeuta. É uma terapia que busca a flexibilização do organismo do paciente, para que haja maior fluidez na sua vida.
Muitas terapias não mergulham na sexualidade da vida de seu paciente, com a crença de que as questões humanas possam ser recortadas e resolvidas separadas umas das outras. Mas isto não é possível, assim como não é possível separar o estômago do cérebro ou do coração, sem que isto interrompa o funcionamento do organismo vivo.
Na clínica pós-reichiana a sexualidade está sempre presente. No processo de redescoberta e reconexão com o corpo e com sua energia, as pessoas vão afrouxando os medos e bloqueios de que eram prisioneiras, rumo à uma vida sexual mais satisfatória. A energia é sexual. Ao ser mobilizada aumenta-se a potência da pessoa em tudo. A vida aos poucos se orienta para o que a alimenta seja no amor, no trabalho ou no conhecimento.
A relação paciente-terapeuta não é hierárquica. O terapeuta é alguém que passa pelo mesmo processo de sensibilização e tomada de consciência de suas emoções e movimentos que seus pacientes passarão. Essa relação horizontal é permitida e se realiza porque é assim que uma pessoa pode se conectar de forma honesta com outra. O vínculo terapêutico acontece porque o terapeuta primeiro aprende a se amar, durante seu próprio processo terapêutico. E com isto está apto a amar seu paciente, a ter um real interesse por ele. Não como algo ideal, forçado, obrigatório. Se não gosta, passa o caso adiante. Pelo vínculo se realiza a troca que permite ao terapeuta conhecer o seu paciente de forma mais profunda.
A formação de vínculo entre terapeuta e paciente é um processo que vai sendo construído conforme as resistências do paciente vão caindo. Os honorários recebidos pelo terapeuta são parte do processo terapêutico, e não o foco da terapia. Impossível conciliar a abordagem da EFEN com um foco puramente mercadológico ou com promessas de fazer dinheiro fácil. Isso estaria em total desacordo com a busca de satisfação na vida, tanto por parte do terapeuta quanto a auxiliar os pacientes a encontrar maior satisfação.
Um dos maiores contrastes entre a formação como terapeuta na EFEN de muitas outras, é que não se pode ser terapeuta enquanto não se tiver atingido um necessário grau de preparo emocional e maturidade. Não é uma formação com sucesso garantido enquanto que todos os anúncios de terapias com foco no mercado dão como certo de que você se tornará um terapeuta, de preferência em pouco tempo.
Outra característica notável na EFEN é que nesta escola há parceria entre os terapeutas, professores e alunos. Uma relação horizontal, com acordos, compromissos e com afeto. É um processo de formação que hoje acontece na minha terapia, e que futuramente (assim espero) durante a supervisão clínica. Existe cooperação. O que é bem diferente do ideal do indivíduo que teve mais sucesso que os outros porque chegou ao topo sozinho.
Rafael Benini
Psicólogo e aluno da EFEN