Para quê ter um filho? Eu nem vou comentar as frases que por mais comuns que sejam na boca das pessoas, ainda conseguem me surpreender como: “quem vai cuidar de você quando ficar velho”. Como se gerar uma vida, um ser humano inteiro, uma vida de afetos se resumisse a uma aposentadoria privada e um cuidador de idosos. Que por acaso o dinheiro pode comprar, os filhos não são necessários para isso. |
Aí vem a pergunta. Para quê, então? 99% das vezes as pessoas não sabem me responder. Tem um desejo que não sabem de onde, não sabem se é delas. Não sabem se é só uma reprodução como o “Zé ninguém” do Reich. Sujeito cordial, polido, que segue o script sem questionar. Casa, faz festa, vai pra lua de mel, o casamento fica ruim, tem o primeiro filho, batiza, faz sessão de fotos infantis, posta no Instagram, o casamento fica pior ainda, tem o segundo filho, um (a) amante fixo aparece... |
Escuto também relatos que pessoas que querem deixar um legado, uma ideia de continuidade. Um medo da finitude, e uma necessidade de ser lembrado. Que nada mais é que o narcisismo falando mais alto. Querem vestir uma bonequinha, querem levar o filho ao jogo de futebol. Existe uma inconsciência dos pais que não se dão contam de que os filhos têm o direito de escolherem para que clube de futebol eles vão torcer. Mas ao invés disso já saem da maternidade com o escudo do time. Outros que são “apaixonados” por bebês e crianças. |
Amam dar beijinhos e abraços e sonham com esse momento. Um lugar “seguro” para expressar uma oralidade mal resolvida. Não sabendo que sem um devido trabalho terapêutico não há beijos suficientes que aplaquem esse impulso insatisfeito.
Um filho ao mesmo tempo que é uma parte da gente também é um ser humano inteiro. Que precisa ser descoberto e não moldado.
Muito mais que as nossas palavras, as atitudes e principalmente a forma como lidamos com as nossas emoções vão influencia-los e marca-los. Mas isso tem muito mais a ver com o nosso próprio trabalho de autoconhecimento e desenvolvimento do que com uma tentativa direta de influenciá-los.
Um olhar mais Reichiano da maternidade seria de ter capaz de se abrir para uma troca de afeto mais fluida e real. De uma mulher inteira e não naquele papel de mãe esperado e idealizado. Capaz de realmente ver o seu filho (a) como quem é nas diversas fases do seu desenvolvimento e não suas projeções e fantasias.
Só a história dirá. Ter um olhar mais apurado e poder falar sobre isso já me deixa mais segura de estar num bom caminho.
Ana Paula Grivet
Psicóloga, terapeuta reichiana em formação na EFEN