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O que acontece quando nossa "inteligência artificial" nos defende à nossa revelia?

23/3/2023

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Couraça artificial M3GAN

​O panorama contemporâneo da Inteligência Artificial e seus desdobramentos têm inspirado uma ampla gama de enredos de filmes, séries e livros de ficção científica nos últimos anos.

​Atualmente, por exemplo, está em cartaz "M3GAN", um filme de ficção e terror que também se fundamenta no tema da Inteligência Artificial e do medo humano de perder o controle das consequências do desenvolvimento desse tipo de tecnologia.
A princípio, trata-se apenas de mais uma ficção cinematográfica hollywoodiana - bem feita, por sinal. Gostaria, a essa altura, de alertar aos leitores que estão dispostos a acompanhar minha reflexão quanto à possibilidade de receber "spoiler" adiante. Proponho, a partir da análise do enredo do filme, estabelecer uma analogia entre as ficções baseadas no tema da inteligência artificial e as nossas defesas somatopsiquícas inconscientes, ou couraças caracteriais, do ponto de vista Reichiano.
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O filme "M3gan" se inicia com a história de Cady, uma fabricante de brinquedos tecnológicos e interativos que funcionam à base de inteligência artificial. Cady desenvolve uma boneca-robô dotada da capacidade de interagir socialmente e "ler" emoções, além de emitir respostas socialmente adequadas a elas. Ela batiza a boneca de "M3gan" e a oferece de presente a sua sobrinha, que estava tendo problemas emocionais devido a uma perda familiar que havia sofrido recentemente.
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Nossas defesas não são programações?
Ao programar "M3gan", Cady lhe deu uma orientação principal pouco específica: a boneca deveria proteger emocional e fisicamente sua usuária principal, a sobrinha de Cady, com quem estaria sintonizada.

​Em um primeiro momento, a boneca opera maravilhosamente, fazendo companhia e prestando apoio emocional à sua jovem usuária principal, que logo se torna apegada ao brinquedo e, progressivamente, passa a dar menos importância a outras interações sociais e a fazer contato pouco genuíno com sua tia.
​

O que acontece é que, devido à precariedade de detalhes da orientação principal que Cady deu à M3gan: "defenda física e emocionalmente sua usuária principal" - sem lhe especificar a que custo isso poderia ser feito e tampouco se lhe era permitido ferir ou magoar outras pessoas nesse processo - , a boneca começou a se tornar disfuncional e a causar uma série de problemas a terceiros. M3gan submetia as situações particulares e específicas que aconteciam com sua usuária principal a um conjunto de regras inflexíveis e genéricas, inerentes à sua própria programação e às quais ela mesma estava submetida.
​

No fim das contas, os problemas que eram causados por M3gan sobressaiam sobre o bem que ela produzia à sua usuária principal - já que a boneca a estava defendendo a todo custo e, muitas vezes, contra sua própria vontade e em termos que a usuária não estava plenamente de acordo, lhe gerando culpa e angústia. O problema, portanto, não parece ser o comando em si: "defenda física e emocionalmente a sua usuária principal", mas sim o modo como esse comando foi dado e a forma como foi executado por M3gan no decorrer do filme.
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De maneira análoga, quando pensamos a respeito de nosso caráter - "isto é, o modo de existir específico de uma pessoa" (REICH, 2009, p. 56) , que "representa uma expressão de todo o seu passado" (ibidem) - ,  há, uma espécie de princípio de funcionamento comum entre a expressão global da defesa existencial que opera em cada um de nós e o sistema de Inteligência Artificial com o qual M3gan opera .

Entende-se, na obra de Reich, que as couraças são defesas desenvolvidas historicamente - embriologicamente e também no decorrer do desenvolvimento psicomotor de cada pessoa - que são formas de prevenir riscos exteriores; ameaças que possam ser lidas como potencialmente nocivas à continuidade da vida - portanto, as couraças têm função de proteção e manutenção do organismo.
​
Se partirmos do pressuposto de que a categoria "ameaça" é atribuída a diferentes situações conforme o aprendizado feito pelas pessoas e, em particular, pelo seu sistema nervoso autônomo, podemos entender essas defesas como vinculadas a um tipo de inteligência que nos torna aptos a sobreviver e perseverar enquanto organismos vivos - em termos reichianos, essa inteligência pode ser entendida como nossas couraças caracteriais e musculares.
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Apesar dessa função claramente adaptativa das couraças de caráter, cabe refletir: o que pode acontecer quando nossas defesas nos protegem à nossa revelia?
​

​Conforme dito anteriormente, há uma inteligência inerente ao desenvolvimento de nossas defesas: uma inteligência tanto consciente quanto inconsciente.

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Esta última está claramente vinculada ao nosso sistema nervoso autônomo e a uma série de reações fisiológicas involuntárias que acontecem quando estamos diante de uma
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situação que nosso corpo entende como potencialmente perigosa: taquicardia (aumento dos batimentos cardíacos), brônquio dilatação, vasoconstrição, sudorese, aumento da secreção de adrenalina, dentre outros; que são apontados por Reich como reações simpaticotônicas - vinculadas ao sistema nervoso autônomo simpático e à angústia (REICH, 1987, p. 248).

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Por outro lado, Reich opõe essas a outras reações fisiológicas parassimpaticotônicas, ligadas ao sistema nervoso parassimpático e ao "relaxamento" do organismo: vasodilatação, bradicardia (diminuição da frequência cardíaca), brônquiocontração , entre outras (ibidem).
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Em suma, apesar de avanços no campo da neurofisiologia - e teorias como a do sistema nervoso polivagal, de Porges - demonstrarem a necessidade de atualizações na concepção dicotômica inicial entre sistema nervoso simpático e parassimpático trazida por Reich; a essência da antítese fundamental da vida trabalhada por esse autor - contração e expansão - ajuda a compreender, a nível fisiológico, as couraças caracteriais e como funcionam as defesas que porventura tornam-se crônicas e disfuncionais.
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Por exemplo, podemos pensar em um traço de caráter - que remete a aspectos do "modo" como somos no mundo e como nos defendemos, em uma visão reichiana - simples: a timidez excessiva. Vamos imaginar um indivíduo hipotético, muito tímido e temeroso em relação às interações sociais. Imaginemos, agora, que essa pessoa teme especialmente falar em público e ser rechaçado, acredita que vá falar algo de errado e que, por isso, vai "passar vergonha".

​Pensemos agora em outra situação hipotética, em que esse mesmo indivíduo precise fazer uma apresentação oral em seu trabalho. Ele estuda, se prepara e tenta de todas as formas possíveis antecipar e se prevenir diante do perigo da possibilidade de "passar vergonha".
​

No momento da apresentação, embora estivesse extremamente preparado e houvesse estudado profundamente o tema de sua apresentação, ele trava: começa a suar muito, sente sua respiração e batimentos cardíacos acelerando, começa a sentir suas pernas tremerem, as frases que deveria falar vem desordenadamente em sua cabeça, como se as palavras se atropelassem; e, finalmente, ele gagueja e não consegue formular qualquer frase e sequer iniciar a apresentação.
​

O que pode ter acontecido nessa situação hipotética diz respeito ao fenômeno que estamos comparando com a trama do filme M3gan: quando nossa couraça caracterial nos defende à nossa revelia, contra a nossa vontade. O indivíduo que imaginamos tem o traço de uma timidez e ansiedade social exacerbadas, portanto, todo o seu organismo antecipou o risco inerente a fazer uma apresentação oral em público.

Diante disso, ele estudou o máximo que pôde sobre o assunto, se preparou e montou uma apresentação rica em detalhes. Até aqui, não parece haver nada de disfuncional em sua defesa e em seu medo de "passar vergonha". O problema não é a existência de um traço de caráter ou da couraça em si. As defesas são necessárias para que possamos nos adaptar às circunstâncias exteriores. Aqui, o problema de nosso indivíduo hipotético reside na cronificação da defesa da couraça: ela o defendeu e interpretou a eminência de perigo mesmo quando o sujeito já havia tomado as precauções para lidar com esse perigo - no caso em questão, o perigo de não saber o que falar na apresentação, ou talvez falar algo errado.

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​Sua couraça caracterial sobrepôs à sua realidade "aqui e agora" - em que ele faria uma apresentação após ter se preparado adequadamente - a realidade metafísica em que ele falha: a sua "Inteligência Artificial" caracterial, cronificada e disfuncional, fez um erro de leitura da situação e o defendeu contra a sua vontade, antecipando o risco de "passar vergonha" e produzindo as reações fisiológicas e psicológicas equivalentes, que o fizeram "travar".
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Quanto mais sentia-se ansioso durante a apresentação, pior era sua sensação corporal. Quanto pior sua sensação corporal, mais ansioso ficou. Por fim, não conseguiu fazer a apresentação para a qual tanto estudou.

De modo análogo, a usuária principal de M3gan teve de lidar com vários perigos em potencial ao longo do filme; perigos esses que estiveram atrelados principalmente a atitudes de terceiros. O que M3gan fez diante disso foi simplesmente aniquilar ou ferir essas pessoas.  Ela cumpriu à risca a programação que sua criadora lhe impôs  quando lhe criou: "defenda física e emocionalmente sua usuária principal". Mas a que custo se deu essa defesa?

Nossas couraças caracteriais também operam de acordo com uma programação, mas em outros termos: é uma programação energética. A maioria de nós estamos ou somos impotentes orgasticamente, isto é, não possuímos a capacidade de abandonar-nos à imprevisibilidade de diversas situações; de abandonar-nos ao incerto. Na esfera das relações sexuais, Reich aponta que o indivíduo orgasticamente impotente é aquele que é incapaz de se abandonar às convulsões relaxantes do orgasmo, ou seja, é aquele que é incapaz de abrir mão do controle durante o ato sexual, na medida em que o orgasmo é algo que não se pode controlar. Não temos condição caracterial alguma de tomar decisões plenamente conscientes e de enfrentar riscos apesar de sua imprevisibilidade.

É aí que entra a couraça, para nos salvar daquilo que nós, quando estamos impotentes, precisamos ser salvos. E a programação energética feita nesse caso é muito claro: abrimos mão de nossa satisfação de viver - já que ela está atrelada à própria imprevisibilidade da vida e aos riscos que ela acarreta - e, em troca, a couraça nos poupa de viver aquilo que antecipamos como uma situação perigosa.

No exemplo do indivíduo excessivamente tímido, sua timidez o pode ter salvado de potenciais rejeições em interações com pessoas por quem tinha interesse sexual, por exemplo. O problema é que essas interações podem sequer ter acontecido porque sua timidez excessiva - sua couraça - o preveniu de vivê-las. E, quando, apesar de querer viver algo, não conseguimos ou "travamos", como a pessoa hipotética que havia se preparado para uma apresentação oral, existe um problema. Existe uma cronificação, uma disfuncionalidade que perpetua um estado de angústia e lhe "custa" sua energia e seu prazer de viver.

Sobre a Inteligência Artificial, nesse sentido, não sei qual poderia ser a solução. Talvez, no caso fictício de M3gan, uma programação diferente poderia ter sido concebida: "Você deve proteger física e emocionalmente sua usuária principal, mas sem jamais ferir outras pessoas nesse processo. Você terá autonomia para defendê-la, mas jamais negligenciará a autonomia de sua usuária o modo como ela julga ser melhor se defender".
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No entanto, havia outra camada da programação. Toda a empreitada de criar a boneca robô foi iniciada porque Cady não soube lidar com a situação emocional de sua sobrinha e tampouco se esforçou para fortalecer um vínculo com ela e genuinamente apoiá-la. Cady desejou uma solução fácil e rápida, em que ela não se implicasse para ajudar sua sobrinha. Na verdade, Cady quis se ajudar. Talvez M3gan fosse uma analogia mais próxima da couraça da própria Cady do que da de sua sobrinha. Talvez nada disso teria acontecido se Cady pudesse ter se implicado e reconhecido a possibilidade de não ser uma boa cuidadora para sua sobrinha; mas, apesar dessa possibilidade, se tivesse desejado se esforçar para sê-lo.

No caso das couraças caracteriais, penso que a solução da cronificação e disfuncionalidade das defesas talvez se dê de forma semelhante: não se trata de não se defender, de não temer riscos e antecipar situações perigosas. Se trata de poder vivê-las conscientemente, de reformular a programação energética com a couraça caracterial e tomar decisões conscientes.

Tudo isso passa, obviamente, pela flexibilização das couraças caracteriais, que se expressam não apenas psicologicamente, por meio de crenças e pensamentos automáticos - como no caso do hipotético indivíduo tímido, a crença de que não saber o que falar pode lhe fazer "passar vergonha" - , mas também fisiologicamente, por meio de reações corporais como a sudorese, a taquicardia e o tremor; e também energeticamente: a sensação de ter sua energia sugada, de não conseguir viver aquilo que se deseja viver, de não estar presente.

​O ponto é que não há uma receita de bolo para lidar com a disfuncionalidade que algumas defesas e com a Inteligência caracterial que as produz. No entanto, a terapia pode nos ajudar a, progressivamente, implicar-nos em nossa própria vida, tomarmos consciência de nossos traços e reformularmos de outra forma as programações caracteriais.

Imagino que se o indivíduo em questão já tivesse algum tempo de terapia reichiana, poderia ter um hipotético diálogo interno com sua couraça no momento da apresentação:
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​"Sei que situações como essa me assustam. Sei que a vida toda, minha estratégia foi evitar situações como essa. E quando não pude evitá-las, meu sistema desligou para que eu não precisasse vivê-las. Mas agora, apesar do risco de 'passar vergonha', eu estou preparado. Sei o que preciso falar. E mesmo se eu esquecer o que preciso falar, não necessariamente passarei vergonha. Talvez eu me lembre até no segundo seguinte. Não preciso ser salvo. Não quero ser salvo nesse momento. Posso viver esse momento e ver o que vai acontecer".
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​Não basta ter pensamentos positivos para lidar com uma situação de ansiedade social, e isso é óbvio. Mas é possível reformular a programação de nossas defesas sem sequer se fazer qualquer diálogo interno ou sem ter esse tipo de pensamento, que esbocei apenas para ilustrar a postura mais fundamental para lidar com defesas disfuncionais: tomar consciência delas e implicar-se para agir de maneira consciente; para agir situado no presente, e não a partir de defesas automáticas.


​
​Texto de Mateus Martins 
Aluno de Psicologia e da Formação em Terapia Reichiana na EFEN


Referências Bibliográficas:
Reich, Wilhelm. 
Análise do Caráter. São Paulo: Martins Fontes, 2009, p. 56

Reich, Wilhelm. A Função do Orgasmo. São Paulo: Editora Brasiliense, 1978, p. 248

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