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Meditação (Vipassana) e a clínica reichiana – o desapego ao prazer pelo desenvolvimento da potência orgástica.

4/10/2015

2 Comentários

 
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Vipassana é uma meditação que significa ver as coisas como elas são. Aprendi esta técnica em um retiro no qual as pessoas ficam reclusas durante 10 dias sem contato com o mundo externo ou quaisquer distrações, meditando durante aproximadamente 10 horas por dia.
Minhas vivências nesse retiro me levaram a uma articulação entre pensamento reichiano e meditação.
Em princípio, esta pode parecer uma articulação impossível. O pensamento budista, que respalda tal técnica meditativa, prega o desapego do prazer como forma de evitar o sofrimento, enquanto a teoria reichiana enfatiza a importância do orgasmo. Porém, o que parecia incompatível no plano mental acabou se integrando perfeitamente através da experiência. Este artigo busca trazer uma visão como-ela-é (para mim) sobre o Vipassana e a clínica reichiana.
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​Tudo começa com a observação das sensações

Muitas meditações se baseiam em repetir uma palavra, um mantra, o nome de uma divindade, ou imaginar uma imagem, por exemplo. A prática do Vipassana se diferencia de outras meditações pois se baseia na percepção das sensações do corpo sem julgamento se são boas ou ruins, ou seja, com equanimidade.

Este estado de observação do corpo é uma importante chave terapêutica para a clínica reichiana. Não é a toa que somos chamados de terapeutas corporais. Diferente das terapias psicológicas mais tradicionais (que se limitam ao aspecto verbal da história de vida e relação com os pais) a terapia reichiana entende que o corpo possui uma memória que pode ser acessada através de “exercícios corporais”, 
ou actings, conforme o conceito de Federico Navarro.

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Ansiedade: um exemplo de caso clínico

Muitas pessoas cronicamente ansiosas fazem uso de remédios ansiolíticos, que  ajudam a diminuir esta sensação. Tanto a abordagem corporal como a meditação são recomendadas para esses casos, podendo, com o tempo, substituir o uso da medicação, uma vez que também agem sobre o equilíbrio neurofisiológico do corpo.
Estas pessoas muitas vezes nos procuram vindas de outras terapias. Recordo-me de um caso de um paciente que fez alguns anos de Psicanálise e percebeu que a ansiedade tinha origem na infância, quando sofria com a expectativa dos pais, pelo fato de ser o filho mais velho. No entanto, apesar dessa compreensão, ele não conseguia se livrar dos sintomas.

Isso porque é preciso ir mais fundo e trabalhar terapeuticamente com a sensação da pessoa. É preciso fazer uma limpeza nos receptores sensoriais. Ou seja, agir sobre o mecanismo da reação automática que não obedece aos comandos da consciência. Tanto na prática da meditação Vipassana como nos actings da terapia reichiana, é possível trabalhar diretamente com as sensações do corpo acessando o inconsciente corporal, ou realizando o desbloqueio da couraça, para a mudança no padrão da ansiedade, por exemplo. Isso é, cortar o mal pela raiz, como diz Goenka, grande difusor da técnica do Vipassana.

A leitura das sensações pela técnica reichiana

Uma diferença, entretanto, entre o Vipassana e a técnica reichiana (sistematizada por Federico Navarro) é a interpretação das sensações dos pacientes.
Segundo Navarro, há ab-reações positivas e negativas distintas para cada acting. Sensações agradáveis de calor corporal, esvaziamento e calma, podem ser consideradas positivas (relacionadas ao Sistema Nervoso Parassimpático). Já uma reação de secura na boca, resfriamento da pele, e mal estar denotam uma reação de simpaticotonia (Sistema Nervoso Simpático).

Já o principio explicativo do Vipassana apresentado nas palestras de Goenka não faz esta leitura das sensações.

Nas palavras de Goenka: “O propósito de se praticar Vipāssana não é experimentar um determinado tipo de sensação mas, isso sim, desenvolver equanimidade em relação a qualquer sensação.

Esta lição foi muito perturbadora para mim em um primeiro momento. Me pareceu uma grande incompatibilidade entre o pensamento reichiano e o budismo. Como eu poderia não preferir sensações prazerosas?
​

Goenka explica que o apego às sensações prazerosas são a causa do sofrimento, uma vez que as sensações são sempre mutáveis. 
Então, se eu me apegar ao prazer, necessariamente vou sofrer com a perda do prazer.

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Um banho de água fria

Isso foi um verdadeiro banho de água fria para mim, que estava me sentindo muito feliz por estar sentindo sensações tão prazerosas com a meditação. De fato, de acordo com as palestras de Goenka, a maioria das pessoas só chegavam a sentir “um livre fluxo de sensações sutis por todo corpo” nos últimos dias do curso. Eu, no entanto, estava sentido essa sensações desde o início.

Como terapeuta reichiana, eu entendia que tais sensações como ab-reações positivas, um estímulo ao sistema parassimpático: calor, relaxamento, sudorese, salivação… Até mesmo a dor, inerente à necessidade de ficar tantas horas na com a coluna reta sem apoio, sumia nesses momentos de meditação.
Me pareceu evidente que os efeitos positivos que eu tive desde os primeiros dias no Vipassana foram efeitos de uma prática constante com os actings. E essa conclusão foi um relevante insight intelectual para minha profissão. Pude perceber que os actings tem um efeito similar ao da meditação.


Isso tem a ver com sexo!

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Além disso, no meio dessa experiência sensorial, me veio como um relâmpago uma outra certeza: “isso tem a ver com sexo”. Depois, pensando melhor, essa ideia me pareceu ainda mais evidente. Quer dizer, a medida que podemos observar continuamente as sensações, ela vão se ampliando. Ficamos mais sensíveis aos estímulos sensoriais e menos sujeitos ao pensamentos que podem nos distrair.
​

De fato, esse é um dos principais objetivos da terapia reichiana, a saber, a ampliação da potência orgástica. Segundo Reich, a energia estagnada é fonte das neuroses e o orgasmo é um reflexo natural de descarga desta energia, presente em todos os organismos vivos.

Eu podia perceber claramente que a meditação provocava uma certa descarga de energia. O efeito de relaxamento, esvaziamento da mente, e bem estar após uma hora de meditação me pareceu bastante semelhante ao que se tem depois de uma boa relação sexual. E eu não fui a única a ter essas ideias. Ao final do curso, quando já podíamos conversar, uma colega confidenciou que havia sentido a mesma coisa.

Então o conceito de potência orgástica é anti-budista?

No entanto, ainda persistia um grande abismo entre buscar alcançar ab-reações positivas com os actings e ignorar com equanimidade as sensações prazerosas. Além disso, se o prazer gera avidez e portanto, sofrimento, a ampliação da potência orgástica seria considerada anti-budista?

Goenka era bem claro em afirmar que:

Mesmo após ter desenvolvido um fluxo livre de sensações sutis pelo corpo todo, é bem possível que, outra vez, uma sensação densa, ou uma área cega, possa surgir em alguma parte. Esses são sinais não de regressão, mas de progresso. À medida que se desenvolve a consciência e a equanimidade, naturalmente, penetramos mais fundo na mente inconsciente e desenterramos impurezas lá escondidas. Enquanto essas profundas camadas de complexos perdurarem no inconsciente, é certo trazerem sofrimento no futuro. A única maneira de eliminá-las é permitir surgirem na superfície da mente e, assim, se desvitalizarem.

A compreensão do ser humano como camadas mais profundas e mais superficiais, como a que a parece na fala de Goenka, é bastante cara ao pensamento reichiano. De fato, os actings seguem uma sequência que obedece esta ordem de maturação biológica. O “mais profundo” se refere a fases mais primárias do desenvolvimento, como a fase intrauterina.

Deste modo é possível concordar com Goenka, pois, mesmo depois de ter uma experiência sutil e prazerosa em um acting se pode ter uma experiência mais densa em outro seguinte, sem que isso signifique involução. Pelo contrário, trata-se de um progresso. Dessa modo, não há incompatibilidade.


Mas e a questão do sexo?

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Podemos ter uma relação compulsiva, de apego e avidez com o sexo. Nestes casos, sempre há prazer mas nunca satisfação. Satisfação é a descarga da energia, que vem acompanhada de um esvaziamento, um momento de pausa. Mas há também outras formas de descarregar energia. Os pequenos prazeres, vícios, consumo, também são formas realizar uma descarga, porém incompleta. Prazerosa, só que não satisfatória, pois não gera o esvaziamento e sim criação de tensão e ansiedade em longo prazo.

A meditação e a abordagem corporal realizam o  desbloqueio das sensações ou flexibilização da couraça, nos ajudando a realizar descargas mais satisfatórias.  No entanto, é preciso entrar em contato com a dor, e questões muito difíceis  antes de melhorar. Não lidar diretamente com a dor, buscando subterfúgios, é simplesmente uma forma de prolongá-la. Deste modo, o preceito budista de desapego ao prazer se integra ao pensamento reichiano.

Isso explica também porque a técnica reichiana pode ser considerada mais difícil que as terapias exclusivamente verbais. É necessário encarar a dor no cotidiano para que haja uma melhora consistente, muitas vezes abrindo mão dos prazeres ilusórios. Da mesma forma, é preciso continuar a prática da meditação diariamente, como afirma Goenka.

Há momentos em que a visão se torna embaçada pelas situações dolorosas da vida. Cabe ao terapeuta ajudar o paciente a ver as coisas como são. E, embora o processo de auto-conhecimento seja uma batalha solitária, a recompensa pode ser um encontro verdadeiro e orgasticamente potente com o outro.

Concluo este artigo com a última frase do jovem que escolheu o isolamento completo da humanidade no Alasca, descrita no filme Na Natureza Selvagem: “A felicidade só existe de verdade quando é compartilhada”.                                                  ​​​
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Alice Souto 

Doutora em Psicologia e Terapeuta Reichiana
Mais informações sobre o Vipassana em: http://www.santi.dhamma.org   
                                                                   ​​​

2 Comentários
Paulo Carvalho de Azevedo Carioca link
22/9/2017 10:39:58 am

Muito interessante o tema debatido...O budismo ensina que a vida é sofrimento, porque tudo é fluido e impermanente: uma hora dor (ou perspectiva de) outra, prazer (ou possibilidade de). O sofrimento vem da nossa ignorância e apego a um ou outro sentimento. Devemos, portanto, desvelar essa ilusão e enfrentar a vida como ela é, na sua fluidez e mutabilidade, usando de forma adulta o princípio de realidade, sem negar neuroticamente o princípio do prazer. O budismo, portanto, não tem nada que ver com autoflagelação, ascetismo, negação do corpo, etc. Muito pelo contrário! Ele nos mostra o caminho do meio e isso tem tudo a ver com as psicoterapias corporais, a reichiana inclusive...Parabéns pelo insight! Quem sabe poderia abrir a discussão sobre a relação/oposição entre a função do orgasmo em Reich e no Tantrismo?

Responder
Ismail
17/3/2019 06:53:49 am

Eu fiz o curso de Vipassana mas não consegui sentir as sensações no corpo (apenas as sensações corriqueiras como cslor, suor, dor, nada além disso). Não experimentei sensações agradáveis, é como se o corpo estivesse todo em branco. Você poderia me sugerir algo para melhorar essa percepção das sensações? Isso é um bloqueio emocional?

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