Wilhelm Reich certamente fez um grande favor às mulheres ao ser um dos preconizadores da liberdade sexual. Já nos anos 30, com o livro: “A Função do Orgasmo”, ele afirmava a potência orgástica como fator indispensável para a saúde. Ele afirmava a importância de que as pessoas pudessem ter relações sexuais livremente, sem que esta devesse estar atrelada ao casamento, por exemplo. Este fato histórico e político tem efeitos para as mulheres até hoje, quando a necessidade de pureza e virgindade feminina já não se dão como um consenso social absolutamente impregnante, como antigamente.
Apesar dos avanços, sabemos que a liberdade sexual ainda não é plena para as mulheres (nem para os homens, mas isso é outro texto). Se antes a repressão sexual feminina as impedia de expressar o seu desejo sexual, hoje há uma espécie de obrigatoriedade de que as mulheres exalem sexualidade e se adequem a um padrão estético ideal estampado nas capas da revistas femininas. O pseudo-liberdade, aos poucos vai se tornando submissão. Acaba-se tendo a ideia de que qualquer imperfeição pode ser motivo para ser substituída, já que parecem existir infinitas opções e os relacionamentos são inseguros. Para agradar os homens, as mulheres devem dar show na cama e gozar horrores, sem esquecer o estudo e o trabalho. Caso contrário, há a culpa pelo o término do relacionamento, que geralmente acaba recaindo sobre a mulher.
Com tanta coisa para se preocupar, na verdade, as supermulheres sorridentes das redes sociais estão cada vez mais insatisfeitas sexualmente. Muitas vezes elas não têm nem consciência disso ou coragem de admitir, pois seria aceitar uma imperfeição que riscaria sua auto-estima. Esta mesma insatisfação sexual faz com que elas consumam cada vez mais revistas que vendem fórmulas para o sexo bem sucedido. Assim, se fecha um ciclo vicioso que só pode ser rompido quando a mulher compartilha a responsabilidade pelo relacionamento com o parceiro e também se permite estar sozinha.
Isso porque o sexo que serve à saúde, implica, de acordo com Reich, em abandonar-se ao fluxo da descarga de energia, às agradáveis contrações involuntárias do corpo causadas pelo orgasmo. Uma mulher insegura e preocupada em manter o
relacionamento seguindo uma fórmula de revista, provavelmente terá dificuldade em atingir esse nível de entrega. O orgasmo então, quando acontece, é superficial e acaba gerando ansiedade e angústia. É preciso abrir mão do controle mental e das preocupações para viver o momento. Além disso, frequentemente, é preciso dialogar com o parceiro e movimentar-se a partir da escuta do próprio corpo para obter uma vivência sexual mais plena. No entanto, para que isso aconteça pode ser necessário admitir um problema diante do parceiro e fazer as coisas diferentes do que ele está acostumado, algo que talvez encontre resistência por parte do homem. Por isso, não existe fórmula que melhore o orgasmo da mulher e ainda assegure a relação, já que não podemos controlar a reação do outro.
relacionamento seguindo uma fórmula de revista, provavelmente terá dificuldade em atingir esse nível de entrega. O orgasmo então, quando acontece, é superficial e acaba gerando ansiedade e angústia. É preciso abrir mão do controle mental e das preocupações para viver o momento. Além disso, frequentemente, é preciso dialogar com o parceiro e movimentar-se a partir da escuta do próprio corpo para obter uma vivência sexual mais plena. No entanto, para que isso aconteça pode ser necessário admitir um problema diante do parceiro e fazer as coisas diferentes do que ele está acostumado, algo que talvez encontre resistência por parte do homem. Por isso, não existe fórmula que melhore o orgasmo da mulher e ainda assegure a relação, já que não podemos controlar a reação do outro.
A liberdade sexual da feminina, desde muito tempo, tem efeitos políticos, e por isso mesmo tem se mantido tão reprimida. O que Wilhelm Reich defendia desde o início do século e que ainda é válido para as mulheres do século XXI é que a liberação sexual feminina transforma as relações de poder entre homens e mulheres. Em outras palavras, não há mulher verdadeiramente satisfeita sexualmente que aceite qualquer tipo de submissão. Embora esta postura possa colocar em risco o relacionamento, certamente muda completamente sua qualidade, tornando a liberdade possível também entre as quatro paredes.
Alice Paiva Souto
Mestre em psicologia, terapeuta reichiana e poeta.
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