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Esse é o meu jeito! – As neuroses que normalizamos

5/2/2023

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Quem viveu na década de 1980 deve lembrar do bordão “É o meu jeitinho!”, de um personagem de Viva o Gordo, programa humorístico do Jô Soares. Eu era criança e recordo que, na época, esse bordão era muito usado pelas pessoas para justificar, em tom de piada, seus comportamentos – sobretudo os ruins. 
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O bordão caiu em desuso, mas não é raro alguém se defender de uma crítica argumentando “esse é o meu jeito”. É como um ponto final, como se nada pudesse ser feito a respeito dado que a pessoa “nasceu assim”, “cresceu assim”, “vai ser sempre assim” – o que Alice Souto, professora da EFEN, chama zombeteiramente de Síndrome de Gabriela. Mas nosso jeito é realmente inato?

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​Durante muitos anos, dividi o meu quarto e a vida cotidiana com minha irmã um ano mais velha: eu, organizadíssima, ela, bagunceira (nosso quarto tinha uma linha invisível: de um lado reinava o caos, do outro, a ordem); eu, tímida, ela super extrovertida; e por aí vai. Tínhamos os mesmos pais, convivíamos com as mesmas pessoas, tivemos praticamente a mesma socialização. Éramos, e ainda somos, completamente diferentes. Talvez essa seja a semente de um estranhamento que carreguei vida afora: Por que somos do jeito que somos?

​Cabe aqui pontuar que esse jeito – que alguns referem-se como personalidade, características ou afins – no ‘dicionário pós-reichiano’ se chama caracterialidade. Em grandes linhas, caracterialidade é o que é característico em nós, o que se repete em nosso comportamento, na forma como nos expressamos e nos relacionamos com o mundo. É o nosso como. Tá, e de onde vem a caracterialidade afinal?
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A caracterialidade é um emaranhado de traços de caráter. E um traço de caráter é um ‘modo sobrevivência’ que foi gravado na memória do nosso ‘sistema’ (uma boa metáfora seria uma programação) em algum momento do passado e que nos faz criar relações específicas de sobrevivência com o mundo no presente. Em geral, esses traços têm origem na fase intrauterina e nos primeiros anos de vida.

Muito superficialmente, a formação de um traço de caráter ocorre assim: aconteceu algo (uma ou várias vezes ao longo do tempo) que a criança percebeu como um perigo intenso. Uma reação de defesa inconsciente ocorre. E, então, o organismo dela “grava” os sinais desse perigo e a reação que permitiu que ela sobrevivesse a ele. Surge, assim, um mecanismo protetivo: sempre que o organismo detecta esses sinais, a pessoa reage inconscientemente dessa mesma forma, desse mesmo jeito. 
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​Vale lembrar que essas gravações vão ocorrendo nos primeiros anos de vida, ou seja, quando não temos recursos para nos contrapor a esses perigos: uma criança não consegue mudar o meio no qual está inserida. Assim, as reações de defesa tomam forma de uma transformação de nós mesmos para nos adaptarmos ao meio. Ou seja, nosso organismo molda quem somos para sobreviver ao ambiente.

A caracterialidade é, portanto, um complexo mecanismo de defesa. Sua função é “proteger o indivíduo contra experiências desagradáveis”: dores, emoções, sentimentos, situações. Cada um desses traços “é uma parte da história da vida do indivíduo, conservada e, de outra forma, ativa no presente” e, assim, a caracterialidade é a soma de todas essas “experiências passadas” (Reich, 1995, p.125).
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Prosseguimos reagindo das mesmas formas pela vida afora. Então, enquanto adultos, seguimos vivendo de acordo com nosso mecanismo de defesa criado na infância, quando ainda não tínhamos outros recursos para nos defender. Normalizamos nossa caracterialidade e não a percebemos como “algo alheio” a nós (Reich, 1995, p. 125).


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​Se esse mecanismo de defesa foi extremamente necessário para a sobrevivência daquele organismo no seu estado infantil, qual o problema com ele, então? O problema é quando ele se torna tão crônico, tão rígido que impede a pessoa de sentir. Quem nunca teve dificuldade de identificar exatamente o que estava sentindo? Quando sustentamos o tempo inteiro uma defesa contra o sofrimento, a angústia, a dor, deixamos também de sentir alegria, prazer, etc. Como coloca Reich, há “também uma redução da capacidade do organismo para o prazer” (Reich, 1995, p.125). Deixamos de ser espontâneos, perdemos contato com o que sentimos, com o outro, com o mundo. Como colocou bem Rodrigo Medeiros, meu colega de curso, a caracterialidade “te protege mas te encarcera também”.
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Quando buscamos terapia, trazemos questões ou sintomas que nos perturbam, que percebemos como adoecimento, como uma neurose. Porém, no decorrer da análise na clínica reichiana, percebemos que aquilo que entendíamos não como um sintoma mas como nosso jeito serve de base para o adoecimento ou para a neurose do qual nos queixamos em princípio. E não é possível tratar a neurose sem cuidar de sua base. Nesse sentido, nossos traços de caráter são eles mesmos sintomas, eles mesmos neuroses.

​A terapia reichiana nos incita ao estranhamento de nossos traços, ao estranhamento da forma como somos e nos relacionamos. Criar consciência sobre nossa própria caracterialidade, sobre o ‘como nos defendemos o tempo todo’ é seu ponto de partida.​
O entendimento de traços de caráter como neuroses ou sintomas é um pouco assustadora, eu sei. Dói enxergar as próprias defesas e como elas afetam as nossas relações.

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Por outro lado, pode também ser um alento. Algumas coisas no meu jeito – como minha timidez – sempre me incomodaram, me trouxeram sofrimento. Encará-las como algo inato, impossível de mudar, provocava uma sensação de estar presa em mim mesma. Mas se o conjunto singular de traços de caráter – ou seja, a caracterialidade – “teve de se tornar o que é, e não outro qualquer, por motivos muito específicos”, ele “é passível de análise e de mudança, exatamente como o sintoma” (Reich, 1998, p. 55). Em resumo: há luz no fim do túnel!

​Essa perspectiva tem sido muito significativa para mim. Olhar com estranhamento para nossa caracterialidade nos conduz a desnormalizar a forma como nos relacionamos com o mundo. Nossos traços são defesas construídas a partir das nossas experiências e não quem somos. E compreender isso é libertador.
 
Referências
Reich, Wilhelm. A Função do Orgasmo. São Paulo: Brasiliense, 1995.
Reich, Wilhelm. Análise do Caráter. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

Autora: Fernanda Chagas Borelli, aluna da formação avançada da EFEN..

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