Todo mundo já ouviu falar em “Complexo de Cinderela”. A mocinha virtuosa espera por um príncipe encantado que se case com ela. Essa foi a história da vida da maior parte de nossas avós, que não viveram felizes para sempre. Mas, desde então, houve muitas conquistas do feminismo e até mesmo os contos de fadas já estão sofrendo modificações.
Pelo contrário, Malévola está “na atividade” e já não espera nada dos homens. Sua maldição é puro recalque. Uma vingança contra o rei que traíra outrora, a seduzindo e cortando suas asas. Por isso, ela chega preparada no baile da realeza, soltando feitiço e quebrando o barraco.
Malévola é um sucesso do calibre da Valesca Popozuda. É tiro, porrada e bomba pra cima dos machistas ou das invejosas que atravessem o seu caminho. É um tesão, capaz de enlouquecer o homens, como acaba fazendo com o rei, no filme. Ela gera tanta identificação pois representa o poder feminino. Uma máscara ideal para uma mulher com a autoestima enfraquecida que se veste de fúria vingadora após uma desilusão. Com isso, vende a imagem de poder e de superação, mas é tudo maquiagem, ilusão ou couraça, como diria Wilhelm Reich.
Porque se utiliza tanto esse termo para términos de relacionamento? O termo abandono é apropriado para uma situação onde os pais ou responsáveis deixam de cuidar de uma criança, por exemplo. Mas uma mulher não necessita de cuidados de um homem. A não ser que se tenha uma relação de dependência emocional ou material. Neste caso, a própria relação é um problema criado por uma cultura patriarcal, que infantiliza as mulheres, rotulando-as como princesas à espera de um homem que tome conta delas como um pai. E dentro dessa lógica, a mulher que não se curva é rotulada como puta, bruxa, cachorra…
Na guerra dos sexos, ambos perdem. Mas perdem ainda mais as mulheres quando se deixam alienar pela competitividade entre si. Ao invés de colocar um escudo de silicone sobre o peito, mais vale turbinar o coração nutrindo sentimentos de afetos pelas irmãs.
Mas final feliz de verdade é a aliança entre as mulheres para além dos estereótipos. Solteiras, casadas, namoradas, ex-namoradas, funkeiras, evangélicas, mães de santo…. todas de mãos dadas. Mas eu não vejo isso nem no conto de fadas.
Alice Paiva Souto
Psicóloga e terapeuta da EFEN
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