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Como pensar a expressão caracterial e social de uma sociedade moldada em processos de escravização?

20/9/2022

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​É notória a preocupação de Wilhelm Reich que atravessou todas as suas obras, desde a técnica da Análise do Caráter, na qual analisou as estruturas e expressões defensivas do caráter, até seu O Éter, Deus e o Diabo, onde falou do pensamento funcional e energético, passando por obras menos “teóricas” como Crianças do Futuro, O Assassinato de Cristo ou Escuta Zé-Ninguém!
Essa preocupação foi com o corpo? Como poderia se pensar, de forma mais geral e imediata a respeito da clínica de Reich, sim. Em parte. No entanto, nos parece que o corpo, mais do que nos atermos a uma “técnica clínica”, o corpo é o lugar onde as questões políticas e históricas da sociedade estão marcadas e é o lugar da memória que processa e guarda impulsos de vida, contradições, expressões de potência, expressões de reatividade, adesão a pensamentos e práticas libertárias ou adesão a pensamentos e práticas fascistóides ou “pestilentas”, como também designaria Reich.
​Assim, a POLÍTICA é uma das grandes amarras das obras de Reich, junto com a sexualidade, o caráter e a energia. Por alguma razão, que por vezes segmenta e não potencializa o pensamento complexo de Reich, ao mirar apenas no corpo e nas “técnicas corporais”, muitos terapeutas ou psicoterapeutas de base reichiana, parecem descartar ou recortar de Reich sua parte POLÍTICA, não como trajetória apenas, de seus percursos marxistas ou até anarquistas na política, mas recortar da própria clínica e do trabalho terapêutico e corporal, os parâmetros sociais, psicológicos, somáticos, caracteriais e energéticos da política. É preciso, a fim de compreender o pensamento de Reich sem recortes disciplinares, colocar o tema da política como PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO COMUM em todas as ações, práticas, diagnósticos e prognósticos que envolvem as ações do VIVO e do que é VÍVIDO nas pessoas e nos espaços. É a essa tarefa que uma clínica PÓS-REICHIANA se dedica também, a trazer Reich em sua inteireza.

Nesse sentido, a partir dos estudos de Reich compreendemos que tudo que está fora também está dentro, isto é, há um princípio de funcionamento comum na vida – e, nesse sentido, a ordem social e a vida individual são partes de um todo, de uma natureza concreta e seu processo integral real e histórico de funcionamento. No entanto, não estamos na Europa, não pensamos Reich na Europa, enquanto terapeutas, temos feito um esforço para pensar o BRASIL, e meus estudos em torno da pesquisa “Psicologia Política na Formação Social Brasileira [2]”, tem contribuído nessa direção, fazendo dialogar as contribuições do pensamento Reichiano, aliadas à outras do pensamento social crítico contra-colonial.

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​A partir desses estudos, entendemos que o racismo estrutural na formação social brasileira, e particularmente o ethos racista (MOURA, 2014) decorrente de processos histórico-concretos da organização societária no país, determinam o ser-precisamente-assim da brasilidade, com consequências em todos os níveis da ordem social. Desse modo, a ideia é pensar Reich em toda a particularidade do desenvolvimento capitalista no Brasil, considerando o peso das relações étnico-raciais em nossa história e a particularidade de uma psicologia política à brasileira.

Em entrevista publicada no site do Conselho Federal de Psicologia (CFP), intitulada “O racismo é sim promotor de sofrimento psíquico”, Valter da Mata (2015) analisa que o racismo afeta duas dimensões da saúde mental diretamente: a identidade e a autoestima. “Não possuindo referenciais identitários valorizados na nossa sociedade (heróis, pessoas bonitas, inteligentes) resta ao grupo subalterno se identificar com a sua “inferioridade natural” ou reivindicar para si um ideal de ego branco“. Assim, temos o que denomina consequências somáticas, para a população negra, a exemplo da depressão, do alcoolismo, da ansiedade, da autodepreciação, e da síndrome do pânico.

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Manifestação em Brasília no dia 7 de junho [4]
(Foto: Sérgio Lima / AFP)

Nos parece que há na perspectiva abordada a separação das partes do todo. Como se saúde mental fosse algo autônomo, e como se identidade e autoestima fossem peças desse quebra-cabeça, os quais, quando não correspondem a um modelo ideal representativo causam sofrimento nos sujeitos. Nesse sentido, o denominado “ego branco” parece ter vida própria, tornando-se uma referência que se autonomiza.

Se é certo que o racismo tem consequências e a explicação atribuída pela psicologia parece insuficiente para dar conta da expressão do fenômeno nos sujeitos histórico-concretos, como “a nova esfera funcional de pensamento, em contraste com a esfera mecanicista e mística da civilização patriarcal” (REICH, 2003, p. 7), proposta por Reich poderia nos ajudar a encontrar o cerne da questão?

Para Reich o fascismo não é um “partido político” ou uma “ideia política”, ou uma “característica nacional de alemães ou japoneses” assim também é o racismo, compreendido em sua forma concreta de funcionamento desde a forma particular como a sociedade patriarcal se desenvolveu no Brasil. 

Há um debate recorrente sobre o fascismo, que o apresenta como uma ideologia que pode ser atribuída a um partido político ou a um país a partir de determinada circunstâncias políticas no curso da história. Reich, ao contrário, vai assinalar que:
“O fascismo não é mais do que a expressão politicamente organizada da estrutura do caráter do homem médio, uma estrutura que não é o apanágio de determinadas raças ou nações, ou de determinados partidos, mas que é geral e internacional. Neste sentido caracterial, o fascismo é a atitude emocional básica do homem oprimido da civilização autoritária da máquina, com sua maneira mística e mecanicista de encarar a vida (REICH, 2001, p. XXVII).”


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Observando o Fascismo no Brasil [5]

Nos parece que no próprio amadurecimento teórico do autor, ele mesmo identificou em obras posteriores que qualquer coisa pretensamente universal, acaba por tornar estático-absoluto, ao passo que autonomiza um processo ou fenômeno que está em funcionamento vivo e dinâmico, tornando-o mecanicista.

Julgamos necessário apreender o sentido caracterial do fascismo em seu movimento dinâmico, histórico-concreto, o qual é expressão do movimento real do desenvolvimento da civilização industrial gravemente doente em terras tupiniquins. O objetivo da pesquisa em andamento é cotejar a hipótese do racismo como forma particular do movimento dinâmico da caracterialidade fascista no Brasil, diante da forma específica como se desenvolveu historicamente a civilização industrial, a família patriarcal e a chamada classe média nessas latitudes. Segundo Reich:

“A nossa psicologia política não poderá ser outra coisa que um estudo do “fator subjetivo da história”, da estrutura do caráter do homem numa determinada época e da estrutura ideológica da sociedade que ela forma. Esta psicologia não se opõe, como a psicologia reacionária e a economia psicologista, à sociologia de Marx, quando lhe sugere uma ‘visão psicológica’ dos fenômenos sociais; pelo contrário, ela reconhece o mérito dessa sociologia que a partir da existência infere uma consciência. (REICH, 2001, p. 15 )”


Nessa esteira, encontrar o ser-precisamente-assim do racismo como forma particular do movimento dinâmico da caracterialidade fascista no Brasil, em sua organicidade histórica e viva na sociedade brasileira, expressa em suas relações sociais e funcionais – no que se refere à caracterialidade dos indivíduos histórico-concretos –, requer, portanto, observar a particularidade do desenvolvimento da sociedade capitalista patriarcal no Brasil, dado que não podemos esquecer, “a estrutura do caráter é o processo sociológico congelado de uma determinada época” (REICH, 1989, p. 7).

Nesse percurso nos propomos a pensar a violência do Estado durante o Brasil colonial como método de repressão e domínio utilizado pelas classes dominantes locais e de construção das relações sociais no país. A repressão com uso explícito, deliberado e perverso da violência atuou para garantir o sistema econômico, político e social interno que atendia às demandas do Estado metropolitano. A escravização dos povos originários concomitantemente ao tráfico e escravização dos povos africanos manteve por séculos o saque e o envio das riquezas aqui produzidas para a metrópole e para os demais países com os quais ela mantinha relações. Esse processo precisa ser compreendido a partir do lugar dos povos escravizados e de suas experiências na conformação dessa sociedade (CARRARO e ROCHA, 2021).


Assim, diferentemente de pensarmos os processos de encouraçamento e a formação de uma ordem social patriarcal e autoritária apenas nos MOLDES EUROPEUS, que foi de onde partiu a análise de Reich, a pesquisa da Prof. Mirella Rocha propõe trazer essa análise para a nossa formação social brasileira e como se deu um regime patriarcal particular em uma sociedade estruturada sobre processos violentos de escravização, e as consequências sobre a vivência da sexualidade – que vai se traduzir nas mesmas formas patriarcais autoritárias e repressivas que observamos no desenvolvimento capitalista que ocorreu nos países centrais para as pessoas brancas; e em formas permissivas, perversamente violadoras, objetificadoras e profundamente violentas para com as pessoas negras.
 
Este é o convite para desdobrarmos novos estudos sobre a formação social, caracterial, sexual e política a partir dos escritos de Reich e de uma prática clínica reichiana e o tema muito próprio nosso, das relações étnico-raciais na formação social brasileira.


​
[1] Texto produzido a partir de original publicado no Congresso Brasileiro de Pesquisadores/as Negros/as – COPENE (ROCHA, 2020), contando com revisão e forma final por Vicente Carneiro, a quem agradeço.
[2] Pesquisa desenvolvida a partir do PET Conexões Povos de Terreiro e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com financiamento do FNDE/MEC/CNPq, sob minha coordenação. [email protected]
[3] 
“Precisamos de união entre pessoas de bem”, diz Edsoul sobre luta contra o racismo | Edsoul | NSC Total
[4] “Não se pode pensar a democracia real no Brasil se o racismo não for um ponto central” | Atualidade | EL PAÍS Brasil (elpais.com)
​[5] ​o fascismo no brasil (obviousmag.org)

​Autora: Mirella Rocha é profa. Dra. da Escola de Serviço Social da UFRJ e Terapeuta licenciada pela EFEN.

Referências
 CARRARO, Dilceane; ROCHA, Mirella. O Estado na formação social brasileira: violência como método de construção das relações sociais In: QUADRADO, Jaqueline Carvalho (Org). Políticas públicas, desigualdades sociais e marcadores sociais da diferença. [E-book] São Borja: UNIPAMPA, 2021, p. 13-35. Disponível em: https://repositorio.unipampa.edu.br/jspui/handle/riu/6056
CFP. Conselho Federal de Psicologia. Valter da Mata - Entrevista CFP “O racismo é sim promotor de sofrimento psíquico. 2015. Disponível em: https://site.cfp.org.br/o-racismo-e-sim-promotor-de-sofrimento-psiquico/?wpmp_tp=1
MOURA, Clovis. Rebeliões de Senzala. São Paulo: Anita Garibaldi, 2014.
REICH, Wilhelm. Análise do caráter. São Paulo: Martins Fontes, 1989
REICH, Wilhelm. Eter, Deus e o Diabo e a superposição cósmica. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
REICH, Wilhelm. Psicologia de massas do fascismo. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
ROCHA, Mirella. Psicologia política do racismo no Brasil: relações raciais em debate. In: SILVA, Paulo Vinicius Baptista da [et al]. Negras escrevivências, interseccionalidades e engenhosidades : movimentos negros, pensamento, história e resistências [Livro 3] /XI COPENE - Congresso Brasileiro de Pesquisadores/as Negros/as. Curitiba : Universidade Federal do Paraná, 2020. Disponível em: https://drive.google.com/drive/u/0/folders/15J9UGT_A3E40amsQopPJIKPicTzcd76Q
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