“Para investigar a natureza devemos literalmente amar o objeto de nossa investigação.”
Passei bastante tempo às voltas com esses dizeres, pois, para mim, essa afirmação fazia muito sentido.
Foi só com o tempo (e muita terapia) que me dei conta do quanto a vida toda fui curiosa em aprender tudo que me interessava e passava incontáveis horas engajada nas minhas próprias pesquisas. E aos poucos foi fazendo sentido que para fazer qualquer coisa eu precisava amar aquilo que me propusera a fazer. Por muito tempo fui considerada rebelde: "Essa menina só quer fazer o que quer." Talvez até faltasse um pouco de foco para ir em frente naquilo que me fazia feliz… talvez até seja rebeldia mesmo você amar aquilo que faz nesse mundo perverso que temos que servir a lógica da produtividade a qualquer custo.
Mas nunca tive dúvidas de que só poderia investir em alguma coisa que realmente me fizesse sentido e que realmente quisesse mergulhar profundamente sem ver as horas passarem. Porque hora boa passa rápido…
Reich nos diz que o amor é fonte de vida pois nos proporciona abertura e entrega e é também espontâneo pois está conectado com o que há de mais profundo dentro de nós. Quando ele se refere ao amor, não é aquele amor romântico que a gente vê nos filmes e novelas que estão ligados às idealizações e sentimentalismo (diferente de ser sensível) ele quer dizer da capacidade de pulsação de vida. É através do amor que conhecemos verdadeiramente a nós mesmos e o mundo à medida que nos afetamos e deixamos nos afetar pelo outro.
Para conhecer algo em profundidade é necessário sensibilidade para haver contato e troca, diante disso podemos relacionar o amor a compreensão do funcionamento da vida e por isso devemos amar o objeto de nossa investigação para que possamos percebê-lo e conhecê-lo genuinamente. Logo devemos operar de acordo com nossos próprios afetos, porém em nossa vida pode ocorrer situações onde esse movimento de abertura é vivido como negativo ou risco vital e com isso nos fechamos para nos proteger.
Porém se esse mecanismo de defesa que em algum dado momento nos protegeu se tornar crônico teremos dificuldade de acessar nosso íntimo e passamos a enxergar o mundo através dessa defesa de forma distorcida e muitas vezes tóxica. Podemos fazer uma relação com a prática na clínica e a relação de pesquisa, pois é necessário que entremos em contato tanto com o paciente ou o nosso objeto de investigação de maneira aberta, para que possamos verdadeiramente relacionar-se.
O terapeuta tanto quanto o pesquisador precisa estar vulnerável para sensibilizar-se e assim verdadeiramente conhecer o outro, portanto é uma via de mão dupla que necessita estar aberta para ter conexão.
Quando amamos o que fazemos o trabalho vira uma investigação prazerosa e a cada mergulho você se depara com um elemento novo que não tinha visto antes, igual a sensação de quando se vê um filme mais de uma vez e você acaba reparando mais detalhes dos quais não tinha visto antes.
Não é que tinha mais coisa pra saber?!
Psicóloga e Terapeuta Reichiana na EFEN