A noção de coragem no mundo masculino está ligada a correr riscos diante dos outros, lidar com o medo e se expor a dor. Os meninos viram que cair machuca, mas sara. Sentiram a admiração dos outros ao conseguirem dar aquele salto. Talvez tenham sofrido com os pontos, mas também tiveram cicatrizes incríveis para mostrar. Elas valeram a pena! Aquele que “peidou” e ficou pra trás, teve como única opção – para evitar a completa destruição de sua moral masculina – não “cair na pilha”, ou seja, demonstrar superioridade, fingindo não se importar com a zoação dos colegas.
Se a namorada o deixou, mesmo tendo motivos, “sujeito homem” não pode admitir que errou. Chorar por causa de mulher, então, nem pensar! Pensando bem, reprimir sentimentos e jogar as coisas para baixo do tapete não pode ser atitude de coragem. Isso é coisa de gente que conserva (mesmo que inconscientemente) o medo de que os coleguinhas apontem e gritem: “viadinho”. Claro que não dá pra ficar se abrindo com qualquer pessoa, feito mala velha. Nem ficar se lamentando e choramingando pelos cantos. Para isso, existem os amigos. Ou seja, outros adultos que são capazes de admitir que também erram, vivem situações semelhantes e não querem te derrubar.
Mas de que adianta? Tem vezes que não se pode fazer nada. A mulher não vai voltar. Mesmo assim, vale a pena encarar. Não se trata nem de culpar os outros, nem de ficar se culpando. A culpa só nos faz andar em círculos e gera um tipo de sofrimento sem utilidade. Mas então para que serve admitir o erro? Pode ser doloroso como cair de um skate e quebrar o nariz, mas pelo menos você está tomando as rédeas da sua própria vida, assumindo a responsabilidade – respondendo pelos seus atos. Admitir um erro é reconhecer que as coisas poderiam ter sido diferentes. E, se isto é verdade, significa que elas ainda podem ser diferentes! Como as situações na vida se repetem (em outros contextos e com outras pessoas), trata-se de repetir diferente.
Então, é preciso parar para refletir sobre certas situações do passado visando mudanças para o futuro. O risco é sentir coisas desagradáveis e, para isso sim, será preciso coragem. Quem quer evitar os riscos acaba se enclausurando, se encouraçando, como diria Reich. Aí, a culpa é sempre do outro e o sujeito homem acaba se achando perfeito, encouraçado como um soldado de chumbo. Essa atitude, entretanto, faz com que a pessoa não aprenda com a experiência e que seus movimentos se tornem cada vez mais limitados.
Coragem não é correr riscos desnecessários. Coragem é reconhecer o erro, pedir desculpas e ter a humildade para pedir ajuda, quando preciso. Nessa lógica, portanto, fazer terapia, por exemplo, é coisa de “macho”. O covarde vai continuar se escondendo atrás de uma cara amarrada e andando em círculos feito um cachorro que corre atrás do próprio rabo.
Alice Paiva
Mestre em Psicologia e Terapeuta Reichiana pela EFEN – Escola Pós-Reichiana Federico Navarro
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